18 novembro 2009

Não me peçam razões


Não me peçam razões, que não as tenho,
Ou darei quantas queiram: bem sabemos
Que razões são palavras, todas nascem
Da mansa hipocrisia que aprendemos.


Não me peçam razões por que se entenda
A força de maré que me enche o peito,
Este estar mal no mundo e nesta lei:
Não fiz a lei e o mundo não aceito.
Não me peçam razões, ou que as desculpe,
Deste modo de amar e destruir:
Quando a noite é de mais é que amanhece
A cor de primavera que há-de vir.


José Saramago

4 comentários:

  1. Anônimo18/11/09

    O que não escrevi, calou-me.
    O que não fiz, partiu-me.
    O que não senti, doeu-se.
    O que não vivi, morreu-se.
    O que adiei, adeu-se.

    AFONSO ROMANO SANT'ANNA

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  2. E não é uma pena que Saramago tenha apenas escrito ou, talvez, publicado um só livro de poesia ?

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  3. Miguel18/11/09

    Saramago escreve muito bem, prosa e poesia.
    Embora não os conheça, há mais dois livros seus de poesia: "Provavelmente alegria", de 1970, e "O ano de 1993" , de 1975.
    E ainda tem a coragem de dizer, no lançamento do seu novo livro, que a Bíblia é cruel. Ficaram indignados, os representantes das religiões, compreende-se, mas que Saramago tem razão nisso, penso que tem.
    Pelo menos no que se refere ao Antigo Testamento.

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  4. Nossa...desconhecimento meu, imperdoavel, quanto aos outros dois livros. Irei à procura deles.Obrigado pela dica Miguel
    Saudações atentas.

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