15 novembro 2009

Apesar de...

... uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de.
Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer.
Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente.
Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora de minha própria vida. Foi apesar de que parei na rua e fiquei olhando para você enquanto você esperava um táxi.
E desde logo desejando você, esse teu corpo que nem sequer é bonito, mas é o corpo que eu quero. Mas quero inteira, com a alma também.

Por isso, não faz mal que você não venha, esperarei quanto tempo for preciso.
O amor é tão mais fatal do que eu havia pensado, o amor é tão mais inerente quanto a própria carência, e nós somos garantidos por uma necessidade que se renovará continuamente.
O amor já está, está sempre. Falta apenas o golpe da graça - que se chama paixão.
Ah, e dizer que isto vai acabar, que por si mesmo não pode durar.
Não, ela não está se referindo ao fogo, refere-se ao que sente. O que sente nunca dura, o que sente sempre acaba, e pode nunca mais voltar.
Encarniça-se então sobre o momento, come-lhe o fogo, e o fogo doce arde, arde, flameja.
Então, ela que sabe que tudo vai acabar, pega a mão livre do homem, e ao prendê-la nas suas, ela doce arde, arde, flameja.
Renda-se, como eu me rendi.
Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.

Clarice Lispector

5 comentários:

  1. Lourdes16/11/09

    Lindo e sentido texto de Clarice Lispector.
    Bonita postagem
    Parabéns Edson....

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  2. Sonia Maria16/11/09

    Me identifiquei com esse texto em vários pontos...
    Um bj enormeeee pra vc!

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  3. Carlos16/11/09

    Já li esse livro da Clarice… maravilhoso.
    Na minha humilde opinião: o melhor. Acho que porque o li extamente na hora certa

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  4. Isabela16/11/09

    LINdo o seu blog Edson Valerio. Nao o conhecia. Agora vou virar fã de carteira também aqui..rsrs
    Criativo, expressivo, falando com a alma… Sua sensibilidade é linda, pois traz textos maravilhosos
    Beijos !
    Isabela

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  5. Anônimo16/11/09

    Quanto a audácias de buscar sonhos, a desafios e a reações aos “apesar de” da vida, por mais fundo que esses assuntos me toquem, por mais poética que considere a maneira como os apresentou, eu não vou falar nadinha… Medo de mim!
    Ultimamente me sinto como a perfeita encarnação do velho ditado popular “quem anda de boca aberta, ou entra mosca, ou sai asneira”.

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