08 outubro 2008

Não Sei Quantas Almas Tenho

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não a tem calma.
Quem vê é só o que vê, quem sente não é quem é, atento ao que sou e vejo, torno-me eles e não eu.
Cada sonho ou desejo é do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem; Assisto à minha passagem, diverso, móbil e só, não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo como páginas, meu ser.
O que passou a esquecer. Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: “Fui eu?”
Deus sabe, porque o escreveu.

Fernando Pessoa

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