Não me sinto mudar.
Ontem eu era o mesmo.
O tempo passa lento sobre os meus entusiasmos cada dia mais raros são os meus cepticismos, nunca fui vítima sequer de um pequeno orgasmo mental que derrubasse a canção dos meus dias que rompesse as minhas dúvidas que apagasse o meu nome.
Não mudei.
É um pouco mais de melancolia, um pouco de tédio que me deram os homens.
Não mudei.
Não mudo. O meu pai está muito velho.
As roseiras florescem, as mulheres partem cada dia há mais meninas para cada conselho para cada cansaço para cada bondade.
Por isso continuo o mesmo.
Nas sepulturas antigas os vermes raivosos desfazem a dor, todos os homens pedem de mais, para amanhã eu não peço nada nem um pouco de mundo.
Mas num dia amargo, num dia distante sentirei a raiva de não estender as mãos de não erguer as asas da renovação.
Será talvez um pouco mais de melancolia mas na certeza da crise tardia farei uma primavera para o meu coração.
Pablo Neruda, in ‘Cadernos de Temuco’
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comente o texto.
Dê sua opinião ou deixe sua poesia, crônica, poema...