15 março 2011

Fora de mim

Estou deitado na noite, a escuridão me envolvendo como um frio cobertor, respirando devagar, lenta e profundamente.
Relaxe.
Solte-se.
Esse mistério não é seu.
Você não tem que solucionar coisa nenhuma.
O que é, é.
Seu trabalho: ficar calado.
Sua missão: ficar imóvel.
O ar entra, profundamente, espere, solte-o, devagar.
Espera longa, demorada.
Ar frio entra; espere; ar quente sai.
Minha única responsabilidade é ser.
O ar escuro escuro rodopiou em volta e através de meu corpo, eu me tornei a noite.
Senti uma sensação curiosa de levitação, de tornar-me infinitamente pesado e mergulhar na terra.
Enquanto olhava, mal notando o que se passava, o cenário começou a deslizar, como uma vista noturna desliza quando nosso trem começa a se mover.
O mais leve dos sons de aceleração, inaudível na escuridão.
Não se preocupe, Richard, pensei, isso não faz a mínima diferença.
Permita. Aceite.
Tão tranquilizante era o pensamento que não importava que as paredes de meu espaço estivessem mudando.
Tudo estava bem.
Respirei, calmo, lento, despreocupado e, à minha frente, surgiu um brilho suave.
Quando as paredes se imobilizaram sem ruído, era dia claro.

Richard Bach - do livro: Fora de mim

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