A vida é para mim, está se vendo,
Uma felicidade sem repouso;
Eu nem sei mais se gozo, pois que o gozo só pode ser medido em se sofrendo.
Bem sei que tudo é engano, mas sabendo disso, persisto em me enganar…
Eu ouso dizer que a vida foi o bem precioso que eu adorei.
Foi meu pecado…
Horrendo seria, agora que a velhice avança,
Que me sinto completo e além da sorte,
Me agarrar a esta vida fementida.
Vou fazer do meu fim minha esperança,
Ôh sono, vem!…
Que eu quero amar a morte...
com o mesmo engano com que amei a vida.
Mário de Andrade
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