29 março 2011
Amo...
Amo as pedras, os astros e o luar que beija as ervas do atalho escuro,
Amo as águas de anil e o doce olhar dos animais, divinamente puro.
Amo as hera que entende a voz do muro e dos sapos, o brando tilintar de cristais que se afagam devagar, e da minha charneca o rosto duro,
Amo todos os sonhos que se calam, de corações que sentem e não falam, tudo o que é Infinito e pequenino!
Asa que nos protege a todos nós!
Soluço imenso, eterno, que é a voz do nosso grande e mísero Destino!...
No desequilíbrio dos mares, as proas giram sozinhas...
Numa das naves que afundaram é que certamente tu vinhas.
Eu te esperarei todos os séculos sem desespero e sem desgosto, e morre de infinitas mortes guardando sempre o mesmo rosto.
Quando as ondas te carregaram meus olhos, entre águas e areias, cegaram como os das estátuas, a tudo quanto existe alheias.
Minhas mãos pararam sobre o ar e endureceram junto ao vento, e perderam a cor que tinham e a lembrança do movimento.
E o sorriso que eu levava desprendeu-se caiu em mim: e só, talvez, ele ainda viva, dentro destas águas sem fim!
Florbela Espanca
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