
Por isso quero ser alguém, quero ser de alguém e, sem saber bem porquê, entrego-me sem ver a quem, pois é a forma mais fácil de fugir.
Preencho a espaços aquilo que me falta entender.
Em cada passo em falso que dou descubro algo mais e encho a minha já vasta colecção de frustrações.
Entrego-me a quem quer que seja mas sem nunca me deixar possuir.
Aperta-me algo por dentro, foi mais um pedaço que morreu. Volta de novo o vazio que me pinta por fora, levanta-se o muro que chega a ser ridículo.
Cubro-me de fantasias, crio mitos e personagens, distribuo papeis por aqueles com que me deparo, elaboro maquiavélicos obstáculos e sento-me à espera.
Espero que peguem em mim, que mandem o muro abaixo, que me prendam.
Espero em vão. Troco as voltas à vida, construo um labirinto à minha volta e perco-me.
Devolvo a paz ao mundo nas horas em que me deixo dormir para, mais tarde, voltar ainda mais insaciável.
Fecho os olhos, continuo a fugir, tropeço em mais alguém que ficou por amar, mais um erro de percurso.
Mas continuo nesta minha entrega, a quem quer que seja. Continuo a fingir para a vida seja eu de quem for.
Continuo a viver do engano e mantenho-me fiel a esta espécie de infidelidade da qual ninguém está a salvo.
Este é o meu furacão, o meu tsunami que arrasta almas, corações e deixa um rasto terrível de desilusões.
Carlos Miguel Leite
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