09 abril 2008

Mudança????

Tentar mudar o outro?
Não.
Mude a si mesmo!
Parece fácil amar outra pessoa.
Porém, a convivência diária traz aborrecimentos e os gestos românticos se escasseiam. Uma conversa franca pode complicar em vez de resolver.
Não tente encaixar o outro na forma que você idealizou. Apenas o aceite.
No mundo de esperanças, medos, prazeres e lágrimas. O que mantém o vínculo são dezenas de fios invisíveis (segredos compartilhados, promessas cumpridas) que ligam uma pessoa à outra através dos anos.
Um mundo feito de corações que se escutam, racham, quebram e voltam a se colar.
No começo parece tão fácil amar outra pessoa.
E o sexo... Bem, o sexo é divino.
Os olhares, sorrisos e gestos falam mais do que as palavras. É tão bom descobrir de quantas formas diferentes somos capazes de compartilhar, de nos fundir com a pessoa que amamos... Acontece que junto com as afinidades vêm as hostilidades geradas pelo conflito de querer amar e de se sentir obrigado a amar.
A familiaridade com o companheiro traz à tona suas imperfeições. Pequenos aborrecimentos se agigantam e mesmo os gestos românticos vão se escasseando. Pouco a pouco, a realidade toma o lugar das imagens idealizadas.
Brigas acontecem, mas, naturalmente, a culpa é sempre do outro.
" Ele já não é o mesmo de antes; portanto, é o responsável pelos problemas que estamos enfrentando " .
É sempre mais fácil encontrar uma causa externa em vez de olharmos para nós mesmos. " Eu gosto de ½ de você. O que faço com o resto ? " .
De alguns anos para cá, muitos casais valorizam o diálogo como forma de resolver esse problema. Revistas, cursos e terapeutas passaram a dizer que o importante é pedir o que se deseja.
" Tenha uma conversa franca e sincera com seu parceiro, exponha o que você realmente quer e assim tudo vai se resolver. "
Embora uma boa conversa seja um ponto de partida razoável, não é suficiente. Nós fomos levados a acreditar que a mudança, até mesmo uma transformação radical na relação, era algo totalmente possível: se o outro realmente amasse, ele faria esforços sobre-humanos para caber na forma que você idealizou. Mas na prática não é bem assim. Foi ensinado às pessoas que a negociação é essencial em um bom relacionamento. É possível negociar tarefas e alguns comportamentos específicos, mas não a personalidade do outro.
É impossível modelá-lo, transformá-lo.
No livro Maridos e Mulheres, Melvyn Kinder e Connell Cowan explicam que uma pessoa pode querer mudar, mas de algum modo achar isso dolorosamente difícil.
Muitos dos traços da nossa personalidade foram desenvolvidos como meios de nos proteger de danos psicológicos.
Hoje podemos não precisar desses mecanismos de defesa, mas eles persistem. Por mais que queiramos modificá-los, inconscientemente ainda sentimos que precisamos deles.
Estes traços que incomodam ou enfurecem são, para a outra pessoa, formas de enfrentar a vida e de sobreviver.
Ninguém quer contrariar seu parceiro, todos nós tentamos agradar, só que nem sempre conseguimos. E acabamos fazendo coisas que machucam.
Temos de aceitar tanto os defeitos como as qualidades do outro. Amor é aceitação.
Nem sempre falar francamente fortalece o relacionamento.
A afirmação parece contrária a tudo dque se disse nos últimos tempos, mas a experiência provou que às vezes " é melhor calar. E agir. "
É ingênuo imaginar que basta expressar claramente os sentimentos para que o parceiro nos compreenda. Quando duas pessoas resolvem falar tudo o que pensam e sentem, podem ficar mais informadas, mas também podem acabar mais machucadas e ressentidas.
Certas coisas não devem nem precisam ser ditas, por mais verdadeiras que sejam, pois não ajudam em nada e costumam provocar devastação emocional.
A superação das decepções devido ao fato de o outro não ser como tínhamos sonhado é uma dura tarefa.
Mas se descobre lentamente, muito lentamente, que se pode amar alguém apesar de suas falhas. Por outro lado, precisamos lembrar que é impossível mudar o outro mas não a nós mesmos, pois todos estamos constantemente nos modelando.
A vida é, afinal, uma procura dos segredos do crescimento e ninguém os conhece plenamente.

Maria Helena Matarazzo

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