31 agosto 2011

Adeus Lukas....

O querido amigo e jornalista Marcelo Bulgarelli, com que tive o prazer de trabalhar na CBN Maringá, escreveu um texto tocante sobre o falecimento do amigo Lukas. Aqui está na integra e já publicado tanmbém pelo Maringá Manchete, do amigo Agnaldo.
Sabia que o estado de saude de Lukas era muito grave, apesar de uma relativa melhora na semana retrasada . No sábado, estava eu e minha esposa Ana perto do antigo Aeroporto quando de estalo falei que tínhamos que ir até ao Hospital São Marcos. Já quase não era horário de visitas. Até estranhei o fato de me deixarem entrar sem cerimonias.

Não cheguei a visita-lo na UTI pois encontrei a esposa dele, Isa, no corredor. Ela conversava com um médico e ao me ver adiantou que a situação não era nada boa. O domingo seria estranho. No final da tarde, Isa nos comunica que o quadro era irreversível. Passei a segunda-feira com dificuldades em me concentrar no trabalho. Estava no estacionamento de um supermercado quando o celular tocou. Era o amigo Antonio Roberto de Paula. Contou que ele e a esposa, Simone Labegalini estavam visitando Isa quando um telefone a informou de que ela tinha que ir para o hospital.
Já dava para perceber que as noticias não eram boas. Mas ainda não caiu a ficha. Lukas não queria morrer. Eu sabia disso. Ele partiu “p” da vida com a situação. Tinha muita coisa para fazer. Ele não se entregaria.
No aniversário dele, cheguei a falar sobre uma viagem que faríamos quando ficássemos cinquentões. É que Lukas adorava os beatniks, prinicipalmente Jack Kerouac. Certa vez, ele escreveu: Esses caras souberam viver. Pena que morreram de forma triste. Então, alugaríamos um motorhome e percorreríamos a Rota 66. Como já não podia falar, ele sorriu concordando (a cirurgia contra o cancer na garganta havia retirado as cordas vocais) , acho que foi para me agradar.
Afinal, uma viagem dessas seria um tanto de vaidade para uma pessoa tão simples. Lukas era um intelectual nato, autodidata,que cursou alguns dias do curso de Letras da UEM, foi funcionário público e largou a carreira estável para viver de seus desenhos. E conseguiu. Chegou a devorar 150 livros em um ano. Sua biblioteca é bem selecionada.
Era católico apesar de suas intimas discussões com Deus. Queria entender a infelicidade do mundo. Apostava no governo Lula e da Dilma. Como conhecia bem as pessoas mais humildes, entendia que a vida havia melhorado de alguma forma. “Por favor, não me exijam coerência o tempo inteiro”, disse certa vez. Se divertia com o blog dele, Casa do Noca.
Alguns internautas o acusavam de ser um pequeno burgues disfarçado. E ele contra-atacou: Eu adoro boteco. Eu tomo cerveja, tubaina, sodinha... Eu amo boteco e seus frequentadores. Eu pago cigarro, pinga e cerveja para alguns. Pipoca, paçoquinha, pra garotada. Sempre com dinheiro, ganho com meu trabalho. Eu adoro os pedreiros, pintores, coletores de lixo, catadores de recicláveis, mulheres com suas criancinhas e suas carroças cheias de papelão, andarilhos. Eu cultuo essa gente. São meus. Dos meus dias de fome, dos meus dias de luta e meses de choro, à cada noite, quando deitava no colchão com a barriga vazia. Tempos de sofrimento, tempo de mandar tudo à merda e desistir. O pouquinho que tenho hoje eu reparto com esse pessoal aí. Eles são os meus escolhidos. Meus mentores, meus mestres, meus iguais. E não tenho vergonha nenhuma de amá-los.
Realmente, Lukas bebia desse universo e o dignificava em seus cartuns. E agora ele partiu pela Rota 66 antes da idade planejada. Assim não vale, meu velho. Assim não vale...

Ma\rcelo Bulgarelli

Um comentário:

  1. Que pena!!!Uma perda irreparável de um graNDE profissional que se vai. Lutou até o fim..... Fica um grande vazio.
    Vai com Deus!!!!!

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