02 fevereiro 2009

Canção

No desequilíbrio dos mares, as proas giram sozinhas...
Numa das naves que afundaram é que certamente tu vinhas.
Eu te esperei todos os séculos sem desespero e sem desgosto, e morri de infinitas mortes guardando sempre o mesmo rosto
Quando as ondas te carregaram meu olhos, entre águas e areias, cegaram como os das estátuas, a tudo quanto existe alheias.
Minhas mãos pararam sobre o ar e endureceram junto ao vento, e perderam a cor que tinham e a lembrança do movimento.
E o sorriso que eu te levava desprendeu-se e caiu de mim: e só talvez ele ainda viva dentro destas águas sem fim.

Cecília Meireles

2 comentários:

  1. Anônimo2/2/09

    "Pus o meu sonho num navio
    e o navio em cima do mar;
    - depois, abri o mar com as mãos,
    para o meu sonho naufragar

    Minhas mãos ainda estão molhadas
    do azul das ondas entreabertas,
    e a cor que escorre de meus dedos
    colore as areias desertas.

    O vento vem vindo de longe,
    a noite se curva de frio;
    debaixo da água vai morrendo
    meu sonho, dentro de um navio...

    Chorarei quanto for preciso,
    para fazer com que o mar cresça,
    e o meu navio chegue ao fundo
    e o meu sonho desapareça.

    Depois, tudo estará perfeito;
    praia lisa, águas ordenadas,
    meus olhos secos como pedras
    e as minhas duas mãos quebradas."
    (Cecilia Meirelles)

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  2. Anônimo2/2/09

    E ainda...

    "...Aqui está minha vida - esta areia tão clara
    com desenhos de andar dedicados ao vento.
    Aqui está minha voz - esta concha vazia,
    sombra de som curtindo o seu próprio lamento.
    Aqui está minha dor - este coral quebrado,
    sobrevivendo ao seu patético momento.
    Aqui está minha herança - este mar solitário,
    que de um lado era amor e, do outro, esquecimento."
    (Cecilia Meirelles)

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