17 novembro 2011

Acordar Viver

Como acordar sem sofrimento?
Recomeçar sem horror?
O sono transportou-me àquele reino onde não existe vida e eu quedo inerte sem paixão.
Como repetir, dia seguinte após dia seguinte, a fábula inconclusa, suportar a semelhança das coisas ásperas de amanhã com as coisas ásperas de hoje?
Como proteger-me das feridas que rasga em mim o acontecimento, qualquer acontecimento que lembra a Terra e sua púrpura demente?
E mais aquela ferida que me inflijo a cada hora, algoz do inocente que não sou?
Ninguém responde, a vida é pétrea.



Carlos Drummond de Andrade

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