13 janeiro 2011

Saudade....por que???

Pode-se sentir saudade de algo que não aconteceu?
É meio complicado pensar-se nisso, pois se a coisa não aconteceu, como pode deixar alguma lembrança?
É curioso, mas acontece.
Existem fatos que, por não terem acontecido deixam em nossa recordação aquele sentimento, ou melhor, aquela indagação sobre se teria ou não sido bom, se teria ou não modificado nossa vida.
Essa é uma das razões pelas quais não se deve deixar as coisas pela metade.
Sendo possível, deve-se ir fundo naquilo que sonhamos, pois a saudade do não ocorrido, sempre deixa um gostinho amargo, ficando aquela dúvida... Teria sido melhor?
Teria modificado algo em nossa vida?
Como exemplo posso citar algumas viagens que programamos e depois, por circunstâncias, não as realizamos.
Pode ficar aquela impressão de que viveríamos a grande aventura de nossa vida.
Porém algo aconteceu. Pode ser uma doença, um acidente, a alta do dólar, perda de emprego.
Enfim, algum problema que impediu a viagem tão desejada, tão vivida. A frustração pela desistência dessas férias tão "vividas", chega mesmo a provocar um sentimento de "saudade" pelo que não houve.
E se realizamos, não era daquilo que foi sonhado. Mas o fato foi constatado. E descobrimos que não era bem aquilo. Não ficará a saudade.
Nos relacionamentos acontece muito disso. Conhece-se alguém numa festa. A primeira impressão é aquela famosa do "zoiou, gamou". Fica-se a noite inteira com essa pessoa.
Imagina-se tudo o que se poderá fazer e passar.
Depois, quando se perde a pista daquela pessoa tão especial, fica-se com a sensação de que poderia ter sido bom.
Fica-se com saudade do que poderia ter se vivido com aquela pessoa.
Fica fixado na imaginação. Como não houve o prosseguimento do romance, fica aquela sensação de saudade no peito.
Pode-se traçar um paralelo com os atuais "romances virtuais".
A Internet propagou o "vírus do amor virtual", que pode ser muito gostoso, gratificante mesmo se for bem administrado, desenvolvido com absoluta sinceridade.
O perigo nos romances virtuais, é quando um dos dois lados está mal intencionado, e quer tirar alguma espécie de vantagem.
Mas não vamos falar desse lado ruim da história.
Se o tema é saudade, só se pode senti-la de coisas boas. Correto?
Um romance virtual sempre começa com uma simples e inocente troca de e-mails.
Começa-se um papinho descontraído sobre isso ou aquilo. De repente começam a descobrir afinidades, pensamentos iguais e começa uma troca de carinhos verbais.
Por vezes almas solitárias que se afinam. Surge porém um problema de difícil solução.
A distância. Um, mora no Amazonas, e o outro no Rio Grande do Sul.
Como fazer? Complica. Uma viagem dessas exige tempo, recursos, e depois pinta aquele medo: Eu chego lá e a gente não se afina... fisicamente não se gosta?
Perde-se a viagem, perde-se o amigo. Então o encontro vai sendo adiado.
Fica na imaginação o que poderia ter sido aquele encontro idealizado com todas as luzes, com todas as sensações imaginadas e descritas.
E se o relacionamento termina como começou, virtualmente, vai ficar aquela saudade do que poderia ter sido aquele encontro tão planejado, tão descrito, tão imaginado... aquele beijo tão carregado de paixão que seria trocado.. mas que nunca o foi. Fisicamente, pelo menos, não.
Por vezes, é muito mais gratificante ficar na imaginação, sentindo-se o amor na virtualidade... assim não haverá o perigo da rejeição física, que poderá ser dolorosa.
Por outro lado, vai ficar para sempre a sensação de que se perdeu algo que poderia ter sido muito bom.
Um amor vivido é melhor do que um imaginado. Será mesmo? Imaginado pode-se vivenciá-lo como quiser, pode se fazer o que vier na imaginação, ao passo que no plano físico, podem surgir inibições que não eram sentidas.
Enfim, é algo que deve ser muito administrado e estudado. E, principalmente, deve ser muito bem conversado desde seu início, com absoluta sinceridade, para que se possa saber os limites de até onde pode chegar a coisa.
Muitas pessoas que vivem romances virtuais, sentem alguma melhora em sua vida.
Mas sempre vai ficar aquele gostinho do que poderia ter sido.
Assim é a saudade do que não se viveu.
Aquele desejo não satisfeito, aquele sonho não realizado, aquele beijo não trocado, aquele momento de amor não vivido, aquela viagem não realizada, enfim muitas coisas que foram pensadas, mas não consumadas, são coisas que nos fazem sentir esse tipo de saudade.


Marcial Salaverry

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